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Estratégias de Inserção / Aconselhamento profissional / Que competências são essenciais para o desempenho de uma função?

Ao definir a sua estratégia competitiva (excelência operacional através da competição com base no custo, inovação no produto, orientação para serviços aos clientes) as organizações empresariais identificam as competências essenciais do negócio e as necessárias a cada função. A partir destas são definidas as competências dos trabalhadores necessárias à organização. No modelo das competências os conhecimentos e habilidades adquiridos no processo educacional, na escola ou na empresa, devem ter uma "utilidade prática e imediata" – tendo em vista os objectivos e a missão da empresa –, e a qualidade da qualificação passa a ser avaliada pelo "produto" final, ou seja, o trabalhador instrumentalizado para atender às necessidades do processo de racionalização do sistema produtivo. O "capital humano" das empresas precisa ser constantemente mobilizado e actualizado para garantir o diferencial ou a "vantagem competitiva" necessários à desenfreada concorrência na economia internacionalizada. 

No modelo das competências o controle da força de trabalho expressa-se através de estratégias de ressocialização e aculturação pela conformação da subjectividade do trabalhador. A ênfase na identificação dos interesses de patrões e trabalhadores – que se convertem numa comunidade social de colaboradores:

  • A autogestão pela internalização da disciplina;
  • O controle exercido sobre os trabalhadores pelos seus próprios colegas no trabalho em equipa;
  • A sobrevalorização de aspectos atitudinais (o saber-ser)

Actualmente, observa-se um progressivo deslocamento do conceito – a qualificação profissional –, para a noção de competências profissionais. O tradicional conceito de qualificação estava relacionado com os componentes organizados e explícitos da qualificação do trabalhador: educação escolar, formação técnica e experiência profissional.  Assim, importa a posse dos saberes disciplinares escolares ou técnico-profissionais e a capacidade de mobilizá-los para resolver problemas e enfrentar os imprevistos na situação de trabalho. O modelo das competências remete, assim, para as características individuais dos trabalhadores.

A lógica das competências perpassa de forma contraditória, mas complementar, o mundo do trabalho: no núcleo do trabalho formalizado, a apropriação pelo capital do saber, do saber-fazer e do saber-ser dos trabalhadores, implica uma busca constante de ampliação e actualização do seu portfólio de competências e uma renúncia permanente aos seus interesses de classe a favor dos interesses empresariais. A ameaça de desemprego num mercado de trabalho desregulado e instável confere à empresa o poder de negociação em relação às formas e condições de trabalho.

Aspectos positivos para os trabalhadores:

  • A valorização do trabalho (assume um carácter mais intelectualizado, menos prescritivo, exigindo a mobilização de competências que envolvem domínios cognitivos mais complexos e que vão além da dimensão técnica, exigindo ao trabalhador novas qualificações e a elevação dos níveis de escolaridade);
  • A valorização dos saberes em acção, da inteligência prática dos trabalhadores, (independente dos graus académicos);
  • Maior polivalência do trabalhador, que lhe permite lidar com diferentes processos e equipamentos, assumir diferentes funções e tornar-se multiqualificado;
  • A possibilidade de construir competências colectivas a partir do trabalho em equipa, maior comunicação, participação e autonomia para o planeamento, execução e controle dos processos produtivos.

Aspectos negativos:

  • A intensificação do trabalho;
  • A desprofissionalização;
  • O sofrimento no trabalho advindo do stress e da ansiedade decorrentes do medo de perda do emprego, das relações de trabalho inseguras, da intensificação e expansão da jornada de trabalho.

A lógica das competências na gestão do trabalho, com a sua perspectiva individualizada e individualizante das relações de trabalho, leva o trabalhador à retracção dos seus saberes aos estritos limites e necessidades da empregabilidade e à ruptura da sua filiação social, posto que todas as relações que se estabelecem no trabalho se dão entre ele e a empresa, sem a mediação sindical.