Ações MeIntegra

Estratégias de Inserção / Aconselhamento profissional / O que significa 'ser competente'?

Uma questão aparentemente simples como esta pode comportar inúmeras respostas, que variam conforme as diferentes correntes teóricas e matrizes epistemológicas que as fundamentam, expressando os valores e interesses de cada sujeito ou grupo social. De acordo com Perrenoud (2000), possuir conhecimentos ou determinadas capacidades não é o bastante para garantir que um profissional seja “competente”. Muitos profissionais que possuem conhecimentos ou capacidades importantes nem sempre sabem mobilizá-los de modo adequado, aplicando-os no momento oportuno.

Alguns estudos sociológicos indicam que o aproveitamento daquilo que se sabe num contexto específico – que é marcado por uma cultura institucional, por relações de trabalho, eventualidades, limites de tempo, envolvendo ainda recursos físicos, humanos e materiais – está fortemente relacionado com as competências, que se realizam na acção concreta. Competência é, portanto, a capacidade de o sujeito mobilizar saberes, conhecimentos, habilidades e atitudes para resolver problemas e tomar decisões adequadas (Zabala, 1998).

As competências também podem ser entendidas como um conjunto de conhecimentos, qualidades, capacidades e aptidões que habilitam para a discussão, a consulta, a decisão de tudo o que concerne a um ofício, supondo conhecimentos teóricos fundamentados, acompanhados das qualidades e da capacidade que permitem executar as decisões sugeridas (Ropé e Tanguy, 1997). Outro aspecto importante é que as competências traduzem uma capacidade de abstração, de desenvolvimento do pensamento sistémico (que pretende superar a compreensão parcial e fragmentada dos fenómenos), de criatividade, de curiosidade, de pensar em múltiplas alternativas para a solução de um problema. Este modelo fundamenta-se na aptidão para trabalhar em equipa, no desenvolvimento do pensamento divergente, na disposição para aceitar críticas, de avaliar criticamente, saber comunicar e procurar novos conhecimentos e referenciais de análise. Estas competências precisam ser desenvolvidas na esfera social, cultural e profissional; devem estar presentes nas atividades políticas, sociais e educativas como um todo pois, são condições para o exercício da cidadania num contexto democrático (Brasil, 1998).

Assim, a noção de competências precisa ser entendida como uma possibilidade multidimensional, que envolve facetas que vão do individual ao sociocultural, situacional (contextual-organizacional) e processual (Manfred, 1998). Por este motivo, uma competência não pode ser confundida com o simples “desempenho” de tarefas, principalmente quando consideramos o campo profissional. É fundamental fazer uma transposição das competências presentes no processo e nas relações de trabalho de modo a estabelecer, numa proposta de formação, um diálogo entre os conhecimentos e a experiência concreta da acção profissional – que considera os valores, as histórias e os saberes gerados na própria actividade de trabalho.