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Jovens qualificados forçados a sair do país para trabalhar

Jovens, qualificados, ambiciosos e, apesar de estarem há pouco tempo a trabalhar, com um nítido desencantamento face ao mercado laboral. São estes os novos emigrantes portugueses, que parecem querer contrariar as estatísticas, segundo as quais apenas 1,5% dos europeus trabalham fora do país de origem. E, durante esta semana, com a iniciativa "Dias Europeus do Emprego", podem conseguir o estímulo necessário para obter um trabalho melhor fora de Portugal.

"Dias Europeus do Emprego" é uma gigantesca feira de emprego, a decorrer em 200 cidades europeias, em simultâneo. Em Portugal, desdobra-se por Lisboa (ontem), Coimbra (amanhã), e Porto (sexta-feira), onde os vários técnicos da rede Eures (ler caixa) dão informações detalhadas sobre o mercado laboral de cada um dos países europeus.

Nos "stands", casos como os de Tânia Fadário, licenciada em Urbanismo, ou de Vítor Roldão, cardiopneumologista, sucedem-se. Para eles, o mercado de trabalho nacional não preenche as expectativas profissionais. Tânia trabalha na Câmara de Cascais, numa área ligada ao curso que tirou, mas a Função Pública não é o que mais ambiciona e no privado "os arquitectos ocupam muitos dos lugares disponíveis". "Lá fora será mais fácil, à partida", diz. Reino Unido, Espanha e Holanda são as possibilidades que encara como mais prováveis.

Júlio, por seu turno, acabou o estágio de Medicina há um ano, mas por enquanto apenas conseguiu colocação em "part-time", numa clínica. "Em Portugal, as perspectivas de evolução na carreira são reduzidas, na área da Saúde". Neste caso, Irlanda, Finlândia, Holanda e Noruega são os países em estudo.

O presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Francisco Madelino, lembra que ainda há pouca mobilidade na Europa. Há cerca de um milhão de propostas de trabalho na rede Eures, mas apenas 250 mil candidatos se inscreveram para trabalhar fora, o que constitui uma inversão do que é normal nas portais de emprego. E, adianta, apenas 1,5% da população europeia a trabalhar fora do país de origem.

Contudo, nos mais jovens, há atitudes mais arrojadas. O número de pessoas que, ao candidatar-se a trabalho nos centros de emprego, admite a possibilidade de trabalhar fora mais do que triplicou, em dois anos, atingindo actualmente os 21 mil desempregados. Francisco Madelino explica que "há cada vez mais abertura dos jovens" para a mobilidade laboral, até porque "o tecido económico ainda não atingiu um patamar em que necessite da totalidade dos licenciados que sai das universidades", nomeadamente a nível de novas tecnologias.

O secretário de Estado do Emprego, Fernando Medina, admitiu a existência de "barreiras" económicas e culturais à mobilidade, mas que nos centros urbanos já há sinais positivos.

Desemprego só aumentou no universo dos licenciados
O número de inscritos nos centros de emprego em Portugal, em Agosto, revelado ontem pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), mostra que quem detém qualificações superiores está a ultrapassar dificuldades acrescidas, no mercado de trabalho. Todos os níveis de habilitação escolar registavam menos desempregados do que há um ano, excepto no nível de instrução superior, cujos desempregados aumentaram 1,6%, totalizando 41 048 indivíduos.

De acordo com o IEFP, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego caiu 10,2% em Agosto, face a período homólogo, mantendo a trajectória descendente pelo 18.º mês consecutivo. No final de Agosto encontravam-se inscritos nos Centros de Emprego do Continente e Regiões Autónomas 392 038 desempregados, menos 44 754 do que no mesmo período do ano passado. A nível de escolaridade, os decréscimos mais significativos verificaram-se no 2.º ciclo e 1.º ciclo do ensino básico (menos 18,6% e menos 14%, respectivamente).

A diminuição do desemprego, em termos anuais, fez-se sentir mais nos homens do que nas mulheres, com o sexo masculino a apresentar uma redução percentual de menos 14,7%, contra menos 7,1% das mulheres. Por grupo etário, o desemprego dos jovens e dos adultos caiu 10,2% e 10,3%, respectivamente. A procura de novo emprego, situação que motivou a inscrição de 91% dos desempregados, mostrou um decréscimo de 11,6%, face ao mesmo mês de 2006, enquanto que a procura de primeiro emprego levou a um aumento das inscrições, na ordem dos 6,8%. Tendo em conta a duração do desemprego, 58,3% dos desempregados encontravam-se inscritos há menos de um ano, sendo que o desemprego de curta duração diminuiu 8,7% e o de longa duração recuou 12,4%. O desemprego diminuiu em todas as regiões do Continente, mas aumentou na Madeira (13,7%) e nos Açores (0,3%).

Rede Eures
O primeiro passo para quem procura trabalho fora do país é consultar a rede Eures (http//europa.eu.int/eures/). Trata-se de uma plataforma que centraliza propostas de trabalho de empregadores de toda a UE, tendo mais de um milhão de postos de trabalho à disposição. Cada país tem o que se designa de conselheiros Eures, que os candidatos podem contactar para saber informações sobre o país de destino. Em 2006, 600 portugueses encontraram colocação através deste sistema.

Feira de emprego
A iniciativa que está a decorrer até ao final da semana é uma ocasião de ouro para obter informações. A feira da rede Eures, que em Portugal é gerida pelo IEFP, decorre em 200 cidades europeias. No local, vários conselheiros Eures dão informações sobre o mercado laboral de cada país. No ano passado, foi centralizada no Centro Comercial Colombo, e registou entre 15 e 20 mil visitantes. Este ano, optou-se por um modelo descentralizado, mas mais focalizado. O objectivo é captar seis mil visitantes efectivos.

Conhecer a oferta
Algo essencial para se definir um destino de trabalho é saber o que procura cada país. Este ano, o stand da Noruega tem sido um dos mais requisitados. O país está "desesperadamente" à procura de engenheiros e tem sido um dos principais importadores de trabalhadores portugueses qualificados.

Fonte: Jornal de Notícias
25-09-2007

 

25-09-2007
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